Como dar suporte emocional a pacientes com DRC?

Conversamos com a psicóloga Yésica Paola Velasco Gutiérrez, que nos deu seu ponto de vista sobre alguns dos questionamentos mais comuns em relação ao estado emocional de pacientes com DRC.

 

A baixa ou nula funcionalidade de um órgão é uma perda.

Quando um dos pacientes vai perdendo aos poucos a saúde de um órgão tão importante como o rim, é preciso se preparar psicologicamente para aceitar e enfrentar essa perda e o que vem com ela.

Somos todos seres humanos diferentes e reagimos de forma diferente às situações. As reações dos pacientes ao RCT são diversas; há pacientes que muitas vezes não entendem o processo pelo qual estão passando e muitos usam frases como "Não entendo por que isso aconteceu comigo se eu me cuidava" ou "Já estava no programa de Nefroproteção e sabia que poderia chegar a esse ponto" , e outros dizem “Toda a minha vida me senti bem e de um momento para o outro minha pressão aumentou e fiquei com DRC”, explica a psicóloga.

Diante dessa situação, o paciente entra em estado de choque emocional. Eles têm sentimentos de tristeza, angústia e ansiedade. “Inicia-se o processo de aceitação e comprometimento com a doença, mas também trabalhamos o processo de luto diante da perda da funcionalidade do rim ou rins e, como todo processo de luto, é caracterizado por etapas (1. Negação 2. Raiva / raiva 3. Negociação 4. Depressão 5. Aceitação)”, acrescenta.
 

Rede de apoio

Como cada caso é diferente, familiares e amigos devem ter paciência em cada etapa do luto e acompanhar o paciente em seu processo, que deve ser orientado por um psicólogo.

“Ter uma rede de apoio será a “bengala” do paciente durante todo o processo de aceitação e diálise. É importante que essa rede de apoio esteja preparada para situações de crise, visto que ocorre esgotamento emocional e físico do paciente e não é fácil enfrentar essas mudanças. Essa rede de apoio deve ser caracterizada principalmente pela tolerância e empatia. Da mesma forma, esta rede caracteriza-se por ter um cuidador principal, mas o ideal é que este papel seja assumido por mais de duas pessoas de forma a diminuir os sintomas de fadiga ou depressão”.

Da mesma forma, no dia a dia a normalidade é importante, e a psicóloga recomenda manter as rotinas de atividades que gerem satisfação física e emocional.
 

O que não devemos dizer a um paciente com DRC?

A escolha das palavras é a chave da mensagem a ser transmitida a uma pessoa que sofre de Doença Renal Crônica. Por isso, Velasco sugere manter uma postura realista. Frases como "Não se preocupe que tudo vai passar" devem ser evitadas, pois reforçam a ideia de negação do processo e dificultará o enfrentamento da terapia dialítica. Outra frase a evitar é:” Calma, não é tão ruim”, pois pode ser interpretado erroneamente como minimizar a dor, os sentimentos e a angústia que a DRC gera.

 

Alerta vermelho: aja para combater o baixo-astral

A psicóloga nos lembra que do ponto de vista fisiológico existem processos normais, como sentir falta de apetite por determinados alimentos. Porém, do ponto de vista emocional, é importante estar atento para que sejam mantidos comportamentos de autocuidado, como tomar banho diariamente, trocar de roupa, escovar os dentes e se preocupar com a aparência física. “Há mudanças a nível emocional, e haverá momentos em que o paciente ficará estável, mas também haverá momentos de crise, onde o paciente poderá expressar sentimentos como 'estou cansado de tudo isso, não quero voltar para a diálise' ou 'agora eu não vou reconectar'”, diz ela. Mudanças nos comportamentos de autocuidado ou a menção a essas frases podem ser sinais de que é necessário recorrer a ajuda psicológica.


A expectativa de um possível transplante renal: paciente e doador
 

Para muitos pacientes, essa ideia pode acabar sendo uma grande ilusão. Mesmo assim, as expectativas devem permanecer realistas, tendo em vista que o transplante pode ou não dar os resultados esperados. “A ideia de fazer o transplante é muito motivadora para o paciente devido à mudança no estilo de vida, mas deve-se enfatizar a viabilidade da probabilidade desse evento. Deve-se trabalhar mais no cuidado com a DRC (dieta alimentar, ingestão adequada de medicamentos e controle emocional)”, afirma Velasco.

 

Quanto ao doador, que muitas vezes pode ser um parente ou pessoa próxima, há também uma série de orientações emocionais a serem levadas em consideração, além de cuidados físicos rigorosos. “É preciso lembrar que se trata de uma cirurgia única e, portanto, serão recebidos controles com psicologia. O suporte emocional é importante antes (fazer um luto antecipado para se preparar para uma perda), durante (acompanhar o pós-operatório) e depois (acompanhar o processo de adaptação ao novo estilo de vida)”, explica.

 

O que fazer quando o otimismo parece não ser suficiente?

  • É importante ter em mente desde o início a evolução normal da doença e suas possibilidades para não gerar falsas expectativas.

  • Quando buscamos desde o princípio a aceitação do diagnóstico com auxílio psicológico, podemos atuar desde o início no luto da doença.

  • Ser uma rede de apoio incondicional: estar presente em todas as fases da doença e oferecer o nosso apoio nos momentos difíceis para aliviar o peso emocional.